Fico pensando em como aquilo tem poder sobre ele. Em como, tudo o que acontece, o faz se sentir mais forte. Aquela melodia que surge do nada, talvez vinda de uma dimensão mais exata do que essa. Ela vêm do profundo e ela o satisfaz. Ele talvez não precise de mais nada na vida. Não dá importância à comida, nem à água, mas acaba por consumir. Mas aquilo... Ah, ele não conseguia me explicar. E eu ficava cada dia mais curiosa.
Então eu comecei a observar, sempre que ficava ao seu lado, em como tudo o transformava. Aquelas notas, aqueles sonhos. Um mundo muito melhor do que este. Um mundo sem igual, que não tem início nem fim. Não se sabe de onde veio. Só se sabe que existe.
Uma vez, perguntei com meus olhos o que ele sentia quando tudo aquilo estava dentro do coração dele novamente.
Ele me respondeu com um sorriso. Nada de palavras. Pegou em minha mão e colocou sobre o coração dele. Batia tão forte... Eu não acreditei.
Foi aí que o silêncio foi quebrado. Ele me disse: "É isso o que eu sinto. E não preciso de mais nada."
Aí eu entendi, de verdade, o que era se apaixonar por alguma coisa. Ou melhor, o que era amar uma coisa. Ele amava o que fazia, e como ele fazia. Aquilo fazia toda a diferença.
Amava profundamente, e não precisou explicar detalhadamente, aliás, o detalhe já existia. Eram as batidas profundas e aceleradas do seu coração. Amar. É simplismente amar. Sem nada a dizer, nem ao menos explicar.
Logo depois de eu fiquei parada. "Como eu nunca prestei a atenção em como isso é importante? Amar o que se faz. Amar independente de qualquer coisa." Ele voltou a fazer o que sempre fazia, e com um sorriso também respondi que estava grata. Fui embora, em busca do que eu também queria. Em busca do que eu amava, e não sabia.
(Stephanie Mello)