dezembro 12, 2009

O Menino







Ele poderia ter sido qualquer um. Mais um que apenas passa pelo mundo. Mais um a reclamar de algumas coisas, e agradecer por outras.
Afinal, ele era apenas um menino. Meninos tão novos assim, não entendem muito bem a vida. Estão descobrindo as coisas boas e más. No entanto, ele chegou à conclusão de que coisas boas e más não tinham um padrão. A pessoa é quem define o que é bom e o que é mau.  Depende do ponto de vista.

 Ele observou três coisas graves no mundo: "matar, roubar e mentir."

 Teve um dia em que ele foi à escola, e dois de seus melhores amigos mataram um passarinho a pedradas. Aquilo doeu nele também. Nunca mais falou com os dois amigos, que agora eram "ex amigos".
 Quando os dois ex amigos tinham saído dali, de onde o assassinato aconteceu, o menino  chegou bem perto do pássaro. Olhou ... Se ajoelhou bem próximo ao passarinho. O pobrezinho estava cheio de sangue e com o bico cheio de areia.

 Ele o pegou com suas mãozinhas, limpou o bico do animal, ajeitou suas asas, e finalmente chorou. Ficou com o pássaro morto na mochila, até chegar em casa, onde o enterrou no seu quintal, e fez uma plaquinha de túmulo, escrita bem assim: " Pobre passarinho".

 Em dois dias, a plaquinha já tinha se deteriorado por causa da chuva. Ele não se preocupou em fazer outra, já que ele sabia que o pobre passarinho, agora estava livre e voando em algum lugar.

 Ele era apenas um menino.

 Numa das aulas de arte, ficou a aula toda desenhando. O desenho era, o pobre passarinho. Ficou perfeito. Só não desenhou nem o sangue, nem o bico sujo de areia. O desenhou livre.
 Só se esqueceu de escrever seu nome no desenho.
 Pois é, roubaram o desenho dele. Um dos ex amigos que fizera, assinou o desenho e entregou à professora. Ele disse que era dele, mas a professora não acreditou. Roubaram dele, seus sentimentos. Roubaram seu pobre pássaro. Ele percebeu que era muito doloroso alguém roubar algo dele. Prometeu nunca fazer isso com ninguém.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------



 Ele só tinha nove anos, mas tinha aprendido algumas das lições dessa vida. Ele tinha já, os olhos iluminados. Olhos de criança, mas com um brilho diferente. Um brilho consciente. Alguns que o vissem, poderiam ter dito que ele já não agia como criança. Sempre sério. 
 Seus olhos brilhavam como quem pede algo mais.
 E o tempo passou. Gabriel cresceu. Sua mente também. Seus olhos já não brilhavam tanto, e ele procurava não se lembrar  do pobre passarinho, nem de seu desenho.
 Agora, aquela criança doce e ferida, era mais um adulto. Já era homem. Agia como um. Falava como um.
 Mas de vez em quando, eu percebia que, no fundo no fundo, Gabriel queria voltar a ser uma criança novamente. Mas ele logo desistia de pensar sobre isso. Não dava tempo. Ele precisava correr.


Mas.. Correr para quê?

Ele chegou à conclusão de que mentir era muito ruim. Mentir para si mesmo então, era a pior coisa do mundo, para ele. A vida é como uma viagem. Você é apresentado à vida, e até que gosta, mas com o passar do tempo, ela te transforma. Para pior, ou para melhor. Gabriel estava no meio termo. Estava perdido. 

"Íncrivel". Pensou.

Era olhar para tudo ao seu redor, para perceber que já conquistara tanto, mas no entanto não tinha nada. Era realmente incrível. O pobre passarinho o ensinou uma lição. Ensinou a vida. Mas Gabriel, ao invés de encará-la de frente, sufocou seu próprio coração. Sufocou a sua própria vida. Tentou fugir ao invés de ficar no brilho dos olhos, e no final, teve que voltar.

 Mas já era tarde. Gabriel estava muito perdido.
E seu pobre passarinho, nunca mais o encontrou.

“Ele não foi. Ele poderia ter sido.”
Mas ele se foi, e nunca mais voltou. 



"Pobre menino. Pobre menino."